Por: Dr. Cristiane Derani - 24/01/2018
Opinião no DC
Há uma energia que não se explica pelas teorias de vantagens políticas ou de mercado. Flui apesar das lutas diárias pela sobrevivência. Essa força movimenta milhares de pessoas que se deslocam de suas casas, com sacrifícios pessoais e financeiros, colocam-se em lugares desconfortáveis, ficam incansáveis sob o sol e calor, para um objetivo que não é dela e nem de alguém, mas alcança a todos. Se perguntar a elas, responderão com palavras genéricas como democracia e igualdade, dificilmente colocarão em dados e práticas objetivas. Mas isso não diminui a importância do sacrifício, o enobrece. Buscam um ideal de um mundo melhor, mais humano e mais justo, e para isso oferecem seu tempo seu trabalho e vida privada.
Não há medo nem insegurança no espaço publico. Nas ruas as pessoas se cumprimentam, tratam-se com cortesia nos espaços exíguos que levam a encontrões e pisões. A bandeira do medo e da insegurança, que frequentemente se ergue na voz daqueles que querem suprimir práticas democráticas e direitos constituídos, não está presente em um coletivo que visivelmente traz distintas classes sociais e formações culturais. 70 mil pessoas para uns, 20 mil para outros, não importa. Muitas pessoas, nenhum incidente, nenhuma briga, nenhuma "baderna". O policiamento estava ao longo do caminho da esquina democrática, mas nenhum policiamento no epicentro do aglutinado humano, nenhum contingente para a segurança de dois ex-presidentes e políticos.
Diferentemente do que se colocou ao entorno do TRF4. Lá, a guarda nacional, tropa de choque fortemente armada, garantia um espaço de segurança. Me pergunto contra quem? A multidão se mostrou absolutamente pacífica. O que teme o tribunal e seus funcionários?
No dia de hoje, bem antes das 7h da manhã, já ouvia em baixo da janela de meu hotel na praia de belas, músicas e discurso que se misturavam em apoio ao ex-presidente Lula e em defesa da democracia. Não estavam lá torcendo pelo ex-presidente. Todos sabem das cartas marcadas, não há qualquer expectativa, desde o mais simples trabalhador aos experientes juristas e políticos. A certeza da condenação é dada, confirmada por release vazado em meio ao julgamento.
Então, por que se reúnem as pessoas com energia e alegria? Porque tudo se tira de um ser humano, mas nunca seus sonhos e ideais. Propaganda, entorpecimento coletivo pelos meios de comunicação e pelo arrocho econômico enfraquecem, oprimem, mas não são capazes de matar o espírito. É nesse momento em que se comprova o completo descolamento do Estado opressor com seus desembargadores em sua cidadela fortemente armada daqueles que pagam seus salários e legitimam sua existência. Não há estrutura política que sobreviva a isso, a história é eloquente.
* Cristiane Derani é professora da UFSC.
Opinião no DC
Há uma energia que não se explica pelas teorias de vantagens políticas ou de mercado. Flui apesar das lutas diárias pela sobrevivência. Essa força movimenta milhares de pessoas que se deslocam de suas casas, com sacrifícios pessoais e financeiros, colocam-se em lugares desconfortáveis, ficam incansáveis sob o sol e calor, para um objetivo que não é dela e nem de alguém, mas alcança a todos. Se perguntar a elas, responderão com palavras genéricas como democracia e igualdade, dificilmente colocarão em dados e práticas objetivas. Mas isso não diminui a importância do sacrifício, o enobrece. Buscam um ideal de um mundo melhor, mais humano e mais justo, e para isso oferecem seu tempo seu trabalho e vida privada.
Não há medo nem insegurança no espaço publico. Nas ruas as pessoas se cumprimentam, tratam-se com cortesia nos espaços exíguos que levam a encontrões e pisões. A bandeira do medo e da insegurança, que frequentemente se ergue na voz daqueles que querem suprimir práticas democráticas e direitos constituídos, não está presente em um coletivo que visivelmente traz distintas classes sociais e formações culturais. 70 mil pessoas para uns, 20 mil para outros, não importa. Muitas pessoas, nenhum incidente, nenhuma briga, nenhuma "baderna". O policiamento estava ao longo do caminho da esquina democrática, mas nenhum policiamento no epicentro do aglutinado humano, nenhum contingente para a segurança de dois ex-presidentes e políticos.
Diferentemente do que se colocou ao entorno do TRF4. Lá, a guarda nacional, tropa de choque fortemente armada, garantia um espaço de segurança. Me pergunto contra quem? A multidão se mostrou absolutamente pacífica. O que teme o tribunal e seus funcionários?
No dia de hoje, bem antes das 7h da manhã, já ouvia em baixo da janela de meu hotel na praia de belas, músicas e discurso que se misturavam em apoio ao ex-presidente Lula e em defesa da democracia. Não estavam lá torcendo pelo ex-presidente. Todos sabem das cartas marcadas, não há qualquer expectativa, desde o mais simples trabalhador aos experientes juristas e políticos. A certeza da condenação é dada, confirmada por release vazado em meio ao julgamento.
Então, por que se reúnem as pessoas com energia e alegria? Porque tudo se tira de um ser humano, mas nunca seus sonhos e ideais. Propaganda, entorpecimento coletivo pelos meios de comunicação e pelo arrocho econômico enfraquecem, oprimem, mas não são capazes de matar o espírito. É nesse momento em que se comprova o completo descolamento do Estado opressor com seus desembargadores em sua cidadela fortemente armada daqueles que pagam seus salários e legitimam sua existência. Não há estrutura política que sobreviva a isso, a história é eloquente.
* Cristiane Derani é professora da UFSC.
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